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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Springs: analisando a "nova Ambev de seu setor"

A Springs Global Participações é uma empresa que atua na produção e varejo de produtos têxteis para o lar, sendo resultado da combinação entre a Coteminas, sediada no Brasil, e a Spring Industries, sediada nos Estados Unidos. Os seus produtos incluem lençóis para cama, fronhas, edredons, colchas, protetores de colchão, travesseiros, cobertores, toalhas, cortinas para chuveiro, tapetes de banheiro e acessórios para banho.

Pois bem. Eis que, lendo o Infomoney (sempre ele), deparo-me, por dois dias consecutivos, com as seguintes manchetes:



Os links para as reportagens completas estão aqui e aqui.

Esse é o tipo de texto que eu considero particularmente perigoso para o investidor em valor, adepto ao buy and hold, que almeja construir uma carteira de ações para o longo prazo. Digo isso porque logo nos títulos temos uma armadilha clássica, que desenvolve-se no decorrer dos textos, dando a entender que a alta recente no preço dos papéis possuem correlação com a situação da companhia, e pior, com seu futuro.

A Springs não é uma boa empresa e jamais será uma Ambev. Mas antes de justificar-me, deixem-me mostrar-lhes o tipo de coisa que eu não gosto de ler.

"(...) a empresa explicou que um motivo para a alta poderia ser o corte da Selic, mas segundo analistas esta disparada vai além apenas da queda dos juros. Em entrevista ao Infomoney, a diretora de Relações com Investidores da Springs, Alessandra Gadelha, falou um pouco sobre o momento atual da companhia e como o futuro pode ser ainda melhor.

Segundo ela a queda da taxa de juros contribui para a redução da despesa financeira da companhia e, consequentemente, para ampliação de seu resultado e de sua geração de caixa. No fim do terceiro trimestre, a dívida bruta atrelada ao CDI da Spring Global, somava aproximadamente R$ 600 milhões. "Assim, a redução de 1 ponto percentual da taxa de juros representa economia ou ganho de R$ 6 milhões por ano, equivalente a 25% do lucro realizado em 2015", explica.

(...) Hoje, a Springs Global perdeu tamanho, mas ainda é a maior das Américas, valendo cerca de R$ 200 milhões. "A única justificativa para isso é o total desconhecimento do mercado da sua existência, que se reflete na sua baixa liquidez", afirma Reis, completando que esta é uma ótima oportunidade para o investidor que busca ações para médio e longo prazo."

Perceberam? No primeiro trecho, uma mudança no cenário macroeconômico é apontada como força locomotora para o desempenho da companhia; no segundo, o tal gestor e blogueiro do Infomoney afirma que a empresa é uma ótima oportunidade para o médio e longo prazo. Pode ser? Sim, mas, indubitavelmente, o investidor comum não tem a menor condição de avaliá-la como promissora, já que o que o histórico da Springs a mostra como uma péssima empresa; ou por outra: comprar a Springs é apostar em um cavalo. Pode até dar certo, mas não é algo muito sensato.

Como tive o trabalho de analisá-la com um pouco mais de atenção, percebi que ela não passa nos filtros mais básicos para o investidor que almeje comprar boas empresas que mantenham ou aumentem seu desempenho ao longo do tempo. Sim, sei que existem aqueles que buscam por turnarounds, e que este poderia ser um caso de uma delas, porém, meu ponto é que a situação da Springs não é e nem foi boa em, pelo menos, nos últimos dez anos.

Sendo assim, vamos aos motivos pelos quais eu jamais compraria esta empresa e que impedem que ela se torne uma Ambev.

1. Falta de transparência nos relatórios 
Li um bocado de relatórios da Springs e achei curioso o fato de que, assim como muitas outras empresas, para ela os releases não passam de meros panfletos publicitários. Explico.

Primeiro vamos ao que eu entendo por um release: um release deve ser utilizado pela empresa como um meio de dialogar francamente com o acionista apontando de forma objetiva os fatos mais relevantes do período. Esse ponto é fundamental, porque os fatos mais relevantes não necessariamente se referem às notícias mais positivas. 

Pois bem. Logo de cara, na primeira página de seus releases, vemos, como padrão, um campo com os "destaques do desempenho da Springs", onde são colocadas as notícias mais positivas do período, onde deveriam ser colocados os fatos mais relevantes.

Outra: vejam a tabela que, também por via de regra, sempre nos é apresentada na primeira página:



Percebam que na tabela está constando apenas o lucro bruto da companhia. O que é o lucro bruto? Respondo: é o lucro que não importa. O que deveria estar na primeira página, impreterivelmente, é o lucro líquido do período, pois é este o lucro que realmente vale para o acionista. Neste caso (3T16), a empresa apresentou prejuízo, e isto é claramente escondido do acionista por todo o release, só aparecendo em uma tabela anexa no fim de todos os comentários.

Duvidam? Pois replico na totalidade o que está escrito no tópico "lucro".

"O lucro bruto totalizou R$ 162,3 milhões no 3T16, com margem bruta de 26,3%. O aumento da receita líquida foi superior ao do CPV, em termos absolutos, porém inferior, em termos relativos, proporcionando ampliação de 0,4% do lucro bruto, mas redução de 0,6 p.p. da margem bruta.

O resultado financeiro foi uma despesa de R$ 57,1 milhões no 3T16, versus despesa de R$ 28,1 milhões no 3T15, quando houve efeito positivo de R$ 21,6 milhões de variação cambial líquida, devido à desvalorização do Real no 3T15.


As despesas financeiras – juros e encargos – ampliaram em R$ 4,5 milhões, enquanto as despesas bancárias, impostos, descontos e outros reduziram em R$ 1,4 milhão. As receitas financeiras reduziram em R$ 1,5 milhão, apesar do maior montante de recursos aplicados no 3T16, pois houve aumento da sua parcela aplicada no exterior, com menores taxas de juros, quando comparadas às do Brasil.


O saldo das variações cambiais foi negativo em R$ 2,8 milhões no 3T16, refletindo a valorização do Real no trimestre na posição líquida de ativos em dólar, ante valor positivo de R$ 21,6 milhões no 3T15. Excluindo o resultado da variação cambial, houve uma melhora de R$ 10,0 milhões no resultado líquido da Companhia entre anos.


Assinamos, em julho de 2016, contrato de locação de 30 mil m2 do terreno de São Gonçalo do Amarante, equivalente a 3,6% da área total. O contrato de aluguel tem prazo de 20 anos, sendo renovável por mais 20 anos.


Vemos este contrato como o início da realização do valor potencial do ativo não operacional de São Gonçalo do Amarante. A chegada do primeiro varejista irá acelerar a negociação com outros interessados, além de tornar mais evidente seu valor de mercado."


Encerro: uma empresa que apresentou prejuízo no trimestre deve invariavelmente apresentar logo na primeira página uma justificativa ao acionista, que investe seu suado dinheiro acreditando na companhia. Sem mais.

2. Lucratividade
Como já anunciado, a empresa apresentou prejuízo no último trimestre divulgado, o que tem sido quase regra nos últimos anos. Vejam abaixo a tabela escondida no fim do release e a evolução da lucratividade da Springs ao longo dos últimos 11 anos:


* Acumulado nos últimos 12 meses partindo do 3T16, último resultado divulgado pela companhia.

É isso mesmo: a nova Ambev apresentou lucro em apenas dois dos últimos 11 anos.

Novamente insisto: pode até ser que ela venha a crescer de forma primorosa, mas, humildemente, me atenho aos resultados passados já que não posso prever o futuro. E o passado desta empresa é, para dizer o mínimo, terrível.

Pergunto: por que o investidor comum, com tanta empresa razoável/boa no mercado, vai inventar de comprar uma companhia com este passado? É muito mais simples comprar um negócio que já provou sua capacidade de gerar lucros: uma Ambev, por exemplo. A Springs não gerá valor ao acionista há anos, e isso é muito claro a qualquer um que analise-a apenas superficialmente. Será que não temos melhor alternativa?

3. Patrimônio
Não bastasse a ausência de lucros, a Springs perdeu cerca de 40% de seu patrimônio líquido nos últimos 11 anos. Segue o gráfico:

* Acumulado nos últimos 12 meses partindo do 3T16, último resultado divulgado pela companhia.

Aqui, novamente, temos uma armadilha. Pelo gráfico é óbvio: a Springs vem perdendo valor. Porém, temos um indicador que pode enganar-nos e nos induzir a achar que se trata de uma pechincha: o P/VPa, que neste caso, está em aproximadamente 0,4.

É um bom número? Sim. Este número indica que a ação está sendo negociada a 0,4 vezes o seu patrimônio líquido, ou seu valor contábil. Porém, como já disse neste blog, este indicador por si só não quer dizer nada. De que adianta um grande patrimônio que não gere valor? O adepto ao buy and hold não pretende vender suas ações no curto prazo, portanto, uma empresa que não apresente resultados deve ser descartada, já que esta tende inexoravelmente ao fracasso em um horizonte mais longo.

Seguimos ao próximo tópico.

4. Dívida
Segundo o sábio, uma empresa que não deve não pode falir. Faz sentido. Sendo ou não verdade, uma coisa é certa: dívidas são como chifres: lidamos com eles, mas é sempre melhor que não existam.

No caso da Springs, a dívida está em patamares preocupantes, já acima do patrimônio líquido. Isto quer dizer que nem todo seu patrimônio seria suficiente para pagar os seus credores em última instância. Isto também quer dizer que grande parte dos lucros (caso existentes) serão corroídos no pagamento de despesas com juros.

Ainda penso em fazer uma abordagem mais detalhada sobre o que penso em relação às dívidas, mas faço o seguinte resumo: prefiro empresas sem dívidas e em seguida empresas com dívidas baixas, mas sei que existem empresas que utilizam a dívida de forma a gerar maiores retornos e aumentam significativamente o seu desempenho no longo prazo. A Springs não é uma dessas empresas. Outra: alavancar com capital de terceiros é uma faca de dois gumes; em tempos de crise, empresas que não devem geralmente performam melhor.

E finalizando, o gráfico da evolução da dívida da Springs ao longo dos anos: 



* Acumulado nos últimos 12 meses partindo do 3T16, último resultado divulgado pela companhia.

Pois é: sei que o analista utilizou uma metáfora quando disse que a Springs será uma Ambev no longo prazo. Mas foi uma metáfora infeliz, já que a Ambev é boa não só pelo market share de aproximadamente 70%, mas pela solidez nos resultados, a dívida mais que controlada, o patrimônio sempre crescente e acima de tudo: a lucratividade que, desde que tenho notícia, nunca se apresentou negativa. 

De fato, a Springs jamais será uma Ambev.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Entrevista com Barsi

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Pois é... os mais céticos que esfreguem bem os olhos, pois o Infomoney novamente acertou em cheio. Nesta segunda, o famoso site brasileiro deu destaque a um bate-papo entre os leitores do site Suno Research e o gigante investidor brasileiro Luiz Barsi. Gostem ou não dele, é fato que o homem diz coisas bem sensatas, além de que sua própria trajetória já fala por si só. Confiram neste link.

O ponto alto da entrevista, ao meu ver, foi a parte em que, questionado sobre "se vale mais a pena investir na renda fixa", Barsi respondeu peremptoriamente "não, não vale a pena". Concorde-se ou não com isso, é alentador para o investidor em ações ler algo que distancia-se do uníssono coro em prol da renda fixa.

Quanto ao trecho polêmico da entrevista, em que Barsi afirma que análise gráfica é uma fantasia, novamente tendo a concordar, apesar de saber que existem pessoas que ganham dinheiro com isso. Minha opinião é simples: o comportamento humano, em nenhuma instância, é passível de previsão. Quem quer que tente sistematizar um set up afim de compreender a ação humana inevitavelmente falhará, pois a ação humana provém principalmente de motivações individuais e da contingência, fatores que simplesmente escapam a qualquer tipo de padrão.

O Barsi não é o meu guru e tampouco me espelho nele como investidor. Mas certamente é alguém que merece ser escutado com atenção.

Bom, por hoje é só.

Abraços!

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Fechamento - Dezembro/2016: R$ 64.466,41 (+R$ 1.408,13 ou +2%)

E vamos ao último post de acompanhamento da carteira no ano de 2016. Ano muito bom, visto que as metas de patrimônio e aportes foram batidas.

Quanto ao blog, tenho postado com frequência bem menor nos últimos meses e, infelizmente, creio que isso não irá mudar. Como já havia dito anteriormente, o blog não é prioridade em minha vida e tampouco quero rentabilizá-lo, ter um grande número de leitores ou algo do tipo. Somando-se a isso os recentes acontecimentos com outros amigos blogueiros, é demasiado desalentador se esforçar em trazer conteúdo novo ou elaborar posts de qualidade.

Sendo assim, o blog segue com aquilo que tem me sido útil: os fechamentos mensais. Seguem os números:

1- Evolução patrimonial




O patrimônio neste dezembro, apesar de uma rentabilidade negativa, atingiu sua maior marca histórica, de R$ 64.466, fechando o ano acima da meta de R$ 62.450. É interessante observar que cada vez mais o crescimento mensal vai tomando consistência e os aportes vão surtindo efeito, já que se trata de uma carteira jovem sem perspectiva de grandes valorizações no curto prazo.

Em 2016 a carteira dobrou, o que me deixou bastante satisfeito, visto que já estamos indo para o quarto ano de investimentos, ou seja, havia levado dois anos para juntar o que juntei este ano.

Abaixo, a evolução patrimonial em forma de tabela, com seus respectivos crescimento e percentual de valorização mensal:

                Patrimônio       Crescimento     Porcentagem
ago/15     R$ 28.239,00 R$ -                         0%
set/15      R$ 25.717,00    -R$ 2.522,00         -10%
out/15     R$ 30.574,00   R$ 4.857,00 16%
nov/15    R$ 31.093,90    R$ 519,90              2%
dez/15     R$ 31.161,00     R$ 67,10                0%
jan/16     R$ 32.931,50    R$ 1.770,50 5%
fev/16     R$ 36.189,50    R$ 3.258,00          9%
mar/16   R$ 38.674,00    R$ 2.484,50          6%
abr/16    R$ 43.872,81    R$ 5.198,81           12%
mai/16   R$ 44.558,01    R$ 685,20              2%
jun/16    R$ 47.703,08    R$ 3.145,06  7%
jul/16     R$ 50.950,69   R$ 3.247,61           6%
ago/16    R$ 55.074,42    R$ 4.123,73  7%
set/16     R$ 54.551,57    -R$ 522,85            -1%
out/16    R$ 64.219,69     R$ 9.668,12    15%
nov/16   R$ 63.058,28   -R$ 1.161,41            -2%
dez/16    R$ 64.466,41 R$ 1.408,13    2%

2- Comparativo de rentabilidades


A rentabilidade mensal atingiu -0,83% no mês, ligeiramente melhor que o Ibovespa, porém ainda abaixo do CDI. Por enquanto, a situação não muda, a carteira não se solidificou e não apresenta um resultado satisfatório frente aos índices de referência. Nada alarmante, visto que o tempo de amostragem ainda é muito pequeno.

Abaixo, os valores compilados de rentabilidade históricos. Lembrando, crescimento do patrimônio e rentabilidade não são sinônimos.

Rentabilidade mensal: -0,83%
Rentabilidade anual: 15,95%
Rentabilidade histórica: 10,24%

3- Aportes mensais


Os aportes mensais fecharam com folga acima da meta, já batida desde novembro, devido a um aporte não esperado neste mês de dezembro. Algo a se comemorar, e diferente do que eu mesmo havia previsto, já que no último fechamento cogitei postergar o aporte de dezembro (onde já havia batido minha própria meta) afim de melhorar os números pro ano seguinte. Desnecessário, ainda bem.

Então, ficamos assim. Espero que este 2017 seja tão bom como 2016 para a carteira e para você, leitor.

Abraços!