Até onde o temperamento do mercado influencia nossas decisões? Será que realmente o mercado nos induz a fazer besteiras? Hoje, brindo-lhes com um pouco sobre finanças comportamentais.
É muito curioso observar nosso comportamento enquanto seres humanos, e principalmente enquanto homens. Nos investimentos, assim como na relação com mulheres ou nas nossas habilidades enquanto motoristas, temos sempre uma ligeira sensação que somos melhores que a média. Não adianta esconder, somos assim.
Por isso, somos dotados de uma capacidade fabulosa de, motivados por uma confiança estúpida, agirmos de forma exatamente contrária à que deveríamos, mesmo desconfiando deste erro de antemão. Ou seja: sabemos que, em teoria, deveríamos comprar quando o mercado está desvalorizado; porém, na prática fazemos justamente o contrário. Mercados de alta estimulam nossos ânimos e mercados de baixa nos enchem de medo, de forma que nossos aportes acabam refletindo essas sensações.
Vejam só este gráfico, retirado do livro The elements of investing, de Burton Malkiel e Charles Ellis, mostrando, na prática, sobre o que estou falando:
As barras representam o valor do índice S&P, enquanto a linha representa o dinheiro novo que está entrando nos fundos. Reparem a correlação entre os dois eixos.
Incrivelmente, os investidores investem mais nos fundos exatamente nos períodos em que o mercado apresenta maior valorização. Quando o S&P caiu no gráfico, entrou menos dinheiro novo. É o que dizem de comprar no topo e vender no fundo, que na prática é o que acontece: o investidor deixa-se tomar pela euforia em bull markets e pelo pessimismo em bear markets, fazendo rigorosamente o contrário do que deveria fazer.
Como disse mais acima, a teoria diz que deveríamos comprar quando o mercado está desvalorizado, porém, o que não disse é que muito provavelmente não seremos capazes de fazer essa distinção. Então, como agir?
Uma solução que ameniza grande parte do problema é: aportar sempre, independente do cenário. Desta maneira se estará comprando em ambos mercados (baixa e alta) mecanicamente, ou seja, à revelia de seu humor.
Se tem algo que eu acho realmente uma piada é o investidor comum tentar fazer market timing. Se existisse alguma maneira de prever com alguma precisão movimento futuro dos mercados, fundos de pensão, que movimentam quantidades absurdas de recursos e são capazes de contratar qualquer gestor do mundo inteiro, teriam quantidades de dinheiro próximas ao infinito.
Vejam bem: uma coisa é alocar dinheiro em liquidez e investir apenas na presença de alguma oportunidade razoável, levando a margem de segurança em consideração; outra é fazer market timing. "Agora vai!" ou "agora acabou!" são frases que, de fato, não devem ser ditas pelo investidor inteligente.
Planejar nossas ações com antecedência é uma maneira bastante eficaz de combater nossos inerentes destemperos, por isso digo: é essencial ter uma metodologia de aportes bem definida que ignore completamente o movimento do mercado. Os que optam por comprar mensalmente, eliminam um problema em sua jornada.