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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A importância do preço de uma ação

Uma questão interessante que é causa de bastante divergência entre as diferentes abordagens daqueles que usam o método Buy and Hold é a importância do preço para a compra de um ativo. Sumariamente, podemos expor dois tipos de abordagem: os que dizem que o preço não é importante, que "sócio tem de querer pagar caro"; e os que acham o preço importante, constituindo um dos critérios para a seleção de uma empresa.

Estou no segundo grupo. Para mim, o preço que se paga em um ativo é essencial. Para exemplificar: comprar um carro popular pela metade do preço é um negócio mais vantajoso do que comprar um carro de luxo por mais do que ele realmente vale. É mais ou menos por aí que eu penso. 

Acredito piamente que ter sucesso como investidor não é exatamente ser sócio das melhores empresas. É ter os melhores retornos. E dependendo dos preços de compra dos ativos, muitas vezes nem uma nova Microsoft irá nos dar retornos expressivos. Por isso, defendo a ideia de que investir corretamente é comprar boas empresas por um preço justo. Em suma, é fazer os melhores negócios.

Que fique claro: ao dizer que o preço é importante não estou afirmando que qualquer oscilação mínima no preço de uma ação impactará em nossos retornos futuros, nem que o investidor deve tentar encontrar o timing certo para a compra em todos seus aportes mensais. O que estou dizendo é que existe uma notável vantagem em se comprar uma empresa P/L 5 ao invés de uma empresa P/L 40 caso a qualidade de ambas seja comparável.

E arremato: uma empresa barata não precisa apresentar resultados fantásticos para gerar altos retornos, já uma empresa cara necessariamente precisa.

Bom, agora vamos a outro ponto que julgo interessante.

Ações de valor x Ações de crescimento
Frequentemente vejo investidores que, para justificar sua opção por ignorar o preço das ações, afirmam que o crescimento é mais importante. Isso é certo? É claro! Aliás, depende. Os crescimentos futuros são realmente mais importantes, mas... podemos realmente compará-los? Comparar os indicadores de duas empresas me parece algo bastante palpável, enquanto comparar crescimentos futuros soa como algo demasiadamente especulativo. Mas vamos supor que estamos apenas comparando empresas com alto crescimento e empresas com baixo preço em relação aos seus fundamentos (lucros, dividendos e valor contábil), as chamadas empresas de valor. Neste caso, as primeiras levam vantagem?

Não. As ações de valor oferecem retornos mais altos que as ações de crescimento. Isto foi determinado em um estudo feito por Eugene Fama e Kenneth French, e resumidamente acontece porque os investidores pagam mais caro por ações de crescimento, que normalmente se encontram em setores que inspiram maior otimismo em relação aos seus resultados futuros, como o setor de tecnologia, por exemplo.

Já as ações de valor estão normalmente em setores considerados cíclicos, com pouca expectativa de crescimento ou, basicamente, setores em que a lucratividade é associada aos ciclos econômicos. Podemos citar aqui as empresas de energia como um ótimo exemplo.

Para ilustrar melhor, vamos a um trecho contido no livro de Jeremy Siegel, Investindo em ações no longo prazo que, aliás, é repleto de ótimos exemplos. Segue a transcrição:

"Para mostrar que o crescimento não se traduz necessariamente em retornos superiores, imagine-se por um momento como um investidor em 1950, no alvorecer da era digital. Você tem US$ 1000 para investir e tem a opção de escolher entre duas ações da Standard Oil de Nova Jersey (hoje ExxonMobil) ou uma nova empresa escolhida para que reinvista todos os dividendos pagos em novas ações e manterá seu investimento a sete chaves durante os próximos 62 anos, que será repartido no final de 2012 entre seus bisnetos ou doado para uma instituição beneficente de sua preferência.

De qual empresa você vai comprar? E por quê?

(...) a IBM supera amplamente a Standard Oil em todas as medidas de crescimento que Wall Street utiliza para escolher ações: vendas, lucro, dividendo e expansão do setor. O crescimento do lucro por ação da IBM ficou mais de três pontos percentuais por ano acima do crescimento do lucro da gigante do petróleo ao longo das seis décadas seguintes. À medida que a tecnologia da informação avançou e a tecnologia tornou-se mais importante para a nossa economia, este setor saltou de uma participação de mercado de 3% para aproximadamente 20%.

Em contraposição, a participação de mercado do setor de petróleo diminuiu significativamente no decorrer deste período. As ações de petróleo compunham em torno de 20% do valor de mercado de todas as ações americanas em 1950, mas caíram para quase metade do valor em 2012.

Com base nesses critérios de crescimento, ganhar o favoritismo dos investidores seria uma tarefa fácil para as ações da IBM. Mas a Standard Oil revelou-se melhor opção de compra. Embora as duas empresas tenham se saído bem, o retorno dos investidores da Standard Oil ficou mais de 1 ponto percentual por ano acima da IBM. Quando seu cofre fosse aberto 62 anos depois, os US$ 1000 que você investiu na gigante do petróleo valeriam US$ 1,62 milhões, mais de duas vezes o valor da IBM."

Conclusão: nem o crescimento do setor, tampouco o crescimento da própria empresa irão garantir que o investidor tenha altos retornos, ao menos não se ele pagar caro por suas ações. Perspectivas setoriais normalmente são inúteis, e o que realmente devemos nos esforçar é para ser sócio de boas empresas que estão sendo negociadas por preços abaixo do que realmente valem. Esta é a chave do sucesso.

4 comentários:

  1. Olá PM!

    Cotações tendem a seguir lucro, então se você entrar numa empresa boa, tirando fatores externos (notícias e especulação durante certos períodos), a tendência é comprar toda vez mais caro.

    Na teoria, se você comparar à longo prazo uma pessoa que compra uma ação X mensalmente, sem preocupar com o preço, e outra pessoa que compre e venda a ação X ganhando com as variações, no final das contas a diferença é ínfima ...

    Abraço

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    1. VDC,

      Você tem razão! As cotações tendem a acompanhar os lucros no longo prazo. Porém o que defendo não é ganhar com as oscilações, e sim comprar empresas que estão sendo cotadas a preços inferiores ao seu valor intrínseco. Ao menos é o que o investidor médio que aplica o B&H está apto a fazer.

      Abraços!

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  2. Na minha opinião o preço de uma ação só importa se duas coisas forem observadas.
    1. se você tiver duas empresas com os fundamentos bem parecidos, e uma delas tiver o preço mais barato.
    2. se nesta escolha você for por bastante grana.

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    1. CF,

      Respeito sua opinião, porém, pagando altos preços em relação aos lucros de uma empresa, está se exigindo obrigatoriamente que esta apresente resultados excepcionais para que seu investimento lhe dê um belo retorno. O que noto é que nem sempre excelentes empresas são, para o investidor, sinônimos de excelentes retornos.

      Abraços!

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