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terça-feira, 7 de junho de 2016

Reflexões [1]

I) É impressionante a reação do indivíduo ao ter o seu primeiro contato com algo parecido à educação financeira. Tenho observado-a após sucessivas indicações do livro “Pai rico, pai pobre” a amigos e, assim como aconteceu comigo mesmo, o deslumbramento misturado ao desespero é total.

Minha mais nova experiência deu-se com um pequeno comerciante —sim, dono de seu próprio negócio— que herdou sua loja, já há algumas décadas em posse de sua família. Nem ele, nem seus familiares que já assumiram a administração do negócio,  possuiam a menor noção de contabilidade básica, e cometeram inúmeros erros triviais ao longo do tempo, segundo ele próprio me relatou. Não faziam um bom controle de estoque, não gerenciavam as retiradas com a devida diligência —imaginem, um negócio com mais de um dono sem controles rigorosos de retiradas—, deixaram a loja ficar com um aspecto visual horroroso, dentre outras coisas.

O fato é que, não bastassem os problemas de caráter gerencial, ainda erraram em um quesito essencial: nunca tiveram uma visão de longo prazo. Não construíram um colchão de segurança —nem sequer um caixa saudável—, não buscaram diversificar seus investimentos, nunca tiveram a disciplina de poupar uma porcentagem do lucro e viveram por longos anos gastando rigorosamente todo os rendimentos do comércio. E agora, após a indicação de apenas um livro, ouço os mais sinceros agradecimentos e sou tratado como um mestre dos investimentos por alguém que, por sua experiência e berço, deveria muito bem me ensinar sobre negócios.

Chega a ser engraçado, mas trata-se de um fato comum no Brasil, e que nos deixa duas reflexões: 1) Inúmeras lojas sobrevivem e dão lucros com péssimas administrações, por que ainda trabalhar para os outros?; 2) Eu, que tanto estudo e pesquiso sobre negócios, hesito em aplicar todo meu capital em um comércio; diversos brasileiros, sem a menor noção de administração e gestão de negócios, empreendem todo seu dinheiro em microempresas. Seria a ignorância uma aliada da coragem? Ou o conhecimento aliado da covardia?

II) Um amigo próximo, após um breve período de namoro, decide se casar. Tem lá seus vinte e poucos anos. A noiva, mãe de um filho, não trabalha. Nenhum dos dois possui situação financeira saudável. Longe de mim criticar a instituição do casamento, mas pergunto: qual a chance de um caso destes dar certo?

O casamento, além de todo o resto, implica em morar junto, construir uma família, e isso gera um custo considerável. Sem planejamento, o mais provável é que mais este casal fique, no mínimo, estagnado financeiramente por um longo tempo. Por que é tão difícil enxergar o óbvio?

III) O Brasil em crise, e continuo a ver um ou outro conhecido saindo do país através do programa “Ciência sem fronteiras”. O perfil é sempre o mesmo: jovens, que não trabalham, ou trabalham em cargos de pouca responsabilidade e mal remunerados, acreditam que a experiência externa agregará maravilhas aos seus currículos. Doce ilusão.

Falar uma segunda língua pode ajudar alguém a entrar em uma multinacional? É claro que sim. Mas desde quando para isto é necessário abdicar-se de trabalhar e viver fora por um ano?

“Mas além disso tem o lado da experiência de vida...” Ah, claro!, as festas e a vodka. Também gosto de comemorar, mas fazer disto uma rotina não é exatamente o que agregaria maravilhas a um currículo.

O que realmente agrega a um currículo é a qualificação técnica aliada da experiência prática. Um ano fora do mercado, por conseguinte, irá prejudicar o currículo atrasando o ganho de experiência.

Aliás: viver por um ano com pequenas (quase nulas) obrigações e custeado pelo dinheiro dos outros é uma realidade tão fantasiosa que, quando vivenciada, tem mais a causar marcas de desídia na personalidade do mal-acostumado.

7 comentários:

  1. Grande PM,

    Comecando pelo fim: As poucas pessoas que foram neste programa gastaram o dinheiro atoa, farreando, e alguns nem mesmo aprenderam uma segunda lingua.

    Eu conheci um estagiario muito bom de servico que participou do programa, e ele me contou cada historia impressionante de como as pessoas nao davam valor ao programa.

    Casamento: Eu sempre tive em mente que enquanto eu nao tivesse condicoes de manter uma casa e duas pessoas sem depender do salario eu nao casaria ... Depois, me demite, e passo aperto financeiro, nem considero o que minha esposa ganha.

    Entao planejei, e quando consegui o que precisava, me casei.

    Casar sem dinheiro para crescer juntos acho muito arriscado, e dinheiro e a causa do fim de muitos casamentos, principalmente pela falta dele.

    Sobre aa lojas, eu sempre fico pensando nisto.

    Tem gente que nao sabe nem o que e facebook, propaganda, marketing digital e tem lucro, sem controlar estoque, sem reinvestir, e nos que somos ligeiramente bons e inteligentes na parte financeira continuamos a trabalhar como empregados.

    Eu cheguei a olhar franquia, mas por enquanto nao chegou a minha hora.

    Bom post, que leva a varias reflexoes.

    Abraco

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    1. VDC,

      Obrigado pelo comentário e fico feliz que tenha gostado.

      A verdade é que a grande maioria dos que vão para fora no "Ciência sem fronteiras" joga fora o próprio tempo e nosso dinheiro.

      Sobre o casamento, o que você fez é que deveria ser comum: agir com responsabilidade. Uma pena que tantos homens cavam sua própria ruína financeira errando ao casar sem planejamento e estabilidade. E uma pena que vários destes sejam nossos amigos.

      E por fim, eu tenho uma verdadeira obsessão em abrir um comércio. Maior até do que a sua, de abrir uma loja e deixar para sua esposa gerenciar. Tenho vários exemplos de pessoas próximas, tanto amigos quanto familiares, que possuem lojas há anos —variando desde franquias até pequenos negócios—, todos eles lucram bem, e nenhum deles lida com nenhum negócio além da compreensão do homem comum. Claro, alguns —normalmente os mais jovens— trabalham mais e tem menos estabilidade que os outros, mas TODOS tem boa lucratividade.

      Eu não abro algo do tipo agora por achar que será extremamente difícil de conciliar com minha faculdade. Mas já dou como certo: ao formar, irei abrir um negócio, mesmo que tenha de emprenhar grande parte do meu capital —o que também me traz algum receio.

      Abraços!

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  2. Eu morei fora do Brasil e estudei inglês. Quando retornei não me agregou em nada profissionalmente.

    Casar com alguém sem emprego, qualificação e um mínimo de noção que viver custa caro é o caminho mais rápido para a ruína financeira.

    Tenho o mesmo problema em relação à empreender. Estou a ponto de abrir uma empresa, mas sinto que falta algo, porém acho que isso vai continuar faltando eternamente até o dia em que eu empreender. É um medo do que nem mesmo existe. O livro "Manual do CEO" tem me ajudado nisso.

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    1. Uma segunda língua normalmente pouco agrega quando se trata de contratação por parte das empresas. Claro que agrega demais para si próprio, mas, normalmente, tem peso menor que uma série de outros critérios.

      Não li o livro citado, irei anotá-lo.

      Abraços.

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  3. Quais os melhores livros sobre negócios? Que tipo de experiência lhe deu maior entendimento sobre o tema?

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    1. Peço licença ao PM.
      Tenho vários post's sobre livros.
      Basta procurar nos marcadores no meu blog.

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    2. Anônimo,

      As indicações e o blog do Pardal estão recomendadíssimos.

      E respondendo sua pergunta: no meu caso, mesmo não sendo um empresário de fato, o que me ajudou a entender sobre negócios foi uma conjunção enorme de fatores partindo desde o estudo de empreendedorismo, finanças pessoais, análise de empresas, contabilidade, administração até gestão de negócios.

      Algo que me marcou e aumentou bastante minha compreensão foi quando, há uns cinco anos quando ainda fazia um curso técnico, tive uma matéria chamada Gestão de Negócios, em que tive de elaborar durante cinco meses um plano de negócios viabilizando a abertura de uma empresa para produção seriada de componentes com preço de venda pré-estabelecido. Neste trabalho tive de calcular rigorosamente tudo que envolveria a abertura e manutenção do negócio, desde funcionários, impostos, matéria-prima etc; e chegar a conclusão se o negócio era ou não viável.

      Outra coisa que aumentou bastante minha compreensão foi a análise contínua por conta própria dos relatórios financeiros das empresas.

      São muitos fatores... E de leitura, segue uma lista resumida de livros que me marcaram, desde os básicos sobre educação financeira, até os mais técnicos e complexos (a lista do blog do Pardal é bem mais completa):

      Pai rico, pai pobre
      Os segredos da mente milionária
      Pense e enriqueça
      A interpretação das demonstrações financeiras
      O investidor inteligente
      O jeito Peter Lynch de investir
      Reflexões para construir uma gestão baseada em valores
      A estratégia do oceano azul
      Valuation
      A era da irracionalidade
      Meus anos com a General Motors

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