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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Oi, uma empresa que abusou do direito de errar


A Oi entrou com pedido de recuperação judicial nesta segunda (20). A empresa está com graves dificuldades para honrar suas dívidas, que já chegam a mais de R$ 65 bilhões. Os problemas incluem o descumprimento de metas de qualidade, universalização e ampliação do acesso aos serviços de telecomunicação. A notícia completa está aqui.

"Considerando os desafios decorrentes da situação econômico-financeira das Empresas Oi à luz do cronograma de vencimento de suas dívidas financeiras, ameaças ao caixa das Empresas Oi representadas por iminentes penhoras ou bloqueios em processos judiciais, e tendo em vista a urgência na adoção de medidas de proteção das Empresas Oi, a Companhia julgou que a apresentação do pedido de recuperação judicial seria a medida mais adequada", diz o comunicado assinado por Flavio Nicolay Guimarães, diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Oi.

Segundo o comunicado, só assim a companhia conseguirá preservar a continuidade da oferta de serviços de qualidade a seus clientes dentro dos compromissos assumidos com a Anatel, preservar o valor da empresa, manter a continuidade de seu negócio e proteger o caixa do grupo.

A triste situação em que esta empresa se meteu, infelizmente, era facilmente previsível. Chega a ser difícil elencar a quantidade de besteiras que a administração da Oi cometeu, mas acho que o grande ponto de inflexão aconteceu quando Lula, então presidente,  alterou a Lei Geral de Telecomunicações para permitir que a Telemar comprasse a Brasil Telecom, com financiamento do BNDES. Segundo o ex-presidente, o país precisava de uma gigante na telefonia. E é óbvio que não precisava, isso não faz o menor sentido.

A partir daí, a Oi traçou uma estratégia com alto potencial explosivo: um aumento agressivo de seu capital somado de estratégias bastante exóticas no trato com seu negócio.

Vejamos um exemplo emblemático: no ano de 2012, a empresa se apresentava com um P/L de aproximadamente 9 e se gabava do posto de maior pagadora de dividendos do setor, chegando a pagar inclusive dividendos maiores que o lucro líquido atingido no final do exercício. Como assim?

No final deste ano, a Oi apresentou aos seus acionistas um aumento de aproximadamente quatro vezes seu endividamento total, para, dentre outras coisas, garantir o pagamento de altas taxas de dividendos. Pouco tempo depois, após anunciar um novo empréstimo, Alex Zornig, diretor financeiro da companhia, disse o seguinte: "A política de remuneração dos acionistas que foi anunciada depende das condições financeiras da companhia e é um pilar importante na governança corporativa, uma vez que proporciona previsibilidade ao mercado." Ou seja, a empresa continuaria pagando proventos aos seus acionistas, mesmo que para isto tivesse de pegar emprestado capital de terceiros. Faz algum sentido? É claro que não, e era fácil saber que uma política deste tipo resultaria em fracasso.

O que são dividendos? Dividendos são parte do lucro de uma empresa, que é destinada diretamente aos acionistas ao invés de ser reinvestida no negócio. Repetindo: dividendos são parte do lucro da empresa. Se a empresa não lucra, não faz o menor sentido distribuir dividendos. Mas para a Oi fazia, pois só assim poderia apresentar a seus acionistas a manutenção do posto de maior pagadora do setor. Mas não por muito tempo. Os resultados que se sucederam agravaram ainda mais sua situação: uma fusão asinina com a Portugal Telecom, um aumento vertiginoso de sua dívida, e claro, pois eles sempre chegam em péssimas gestões: os prejuízos.

E assim a Oi chegou a este triste fim. O juiz irá analisar o pedido da empresa e decidir se autoriza ou não a recuperação. Se não autorizar, ela terá de decretar falência. Caso autorize, há 60 dias para que a Oi apresente um plano de recuperação.

Lamentável, mas previsível.

7 comentários:

  1. Senti raiva ao ler isso. Todo dia uma empresa pública ou privada ligada ao PT (fora as privadas normais) quebra no Brasil.

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    1. É realmente impressionante o estrago que essa corja de ladrões causou nas empresas brasileiras. É de deixar um monge indignado.

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  2. Esta era uma empresa que quando entrei na bolsa, sem saber de nada, eu via como o “paraíso dos dividendos”.

    O problema era que eu não sabia que dividendos eram parte do valor da cotação, antes com toda a ingenuidade e burrice pensava que era um dinheiro adicional rsrs.

    Esta aí não lembro de prejuízo, mas comprei por volta de R$ 6,00 para fazer trade.

    Imagina quem investiu muito dinheiro nela, quebrou.

    Abraço

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    1. VDC,

      E era exatamente isto que a Oi fazia, manipulava o dividend yield. Para o investidor que não se atentasse, aquilo ali realmente aparentava o paraíso.

      Os minoritários que acreditaram na balela, infelizmente, perderam rios e rios de dinheiro. Hoje, mais do que nunca, sabemos muito bem quem são os ÚNICOS que ganham dinheiro com as empresas estatais brasileiras.

      Abraços!

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  3. Sempre tem a mão do "estado", ou melhor, seu braço executivo governo.

    São os "campões nacionais", grandes empresas metidas em todo tipo de falcatrua política... e o BNDES sempre está na cena do crime.
    Isso para nem comentar da ANATEL.

    Agora tem esse tal Naguib Sawiris, querendo segurar a bomba...

    Falow,
    Pardal

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    1. Esqueci de mencionar:
      Essa de pegar empréstimo para pagar dividendo tem raízes na Eletrobrás que também fez o mesmo.

      Empréstimo no paizão BNDES para pagar dividendo, pasmem!

      Pindorama é aqui que vivemos...

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    2. Pardal,

      A administração pública brasileira extrapola completamente os limites do absurdo. Não só temos um estado inacreditavelmente maior que o tolerável, como este estado também possui todos os vícios possíveis de se imaginar.

      O BNDES talvez seja a maior caixa preta que temos por aqui. Um banco que, ao meu ver, seria inútil se fizesse o que se propõe, deposita bilhões de reais anualmente nos bolsos dos amigos do governo.

      E o pior de tudo: somos nós é que bancamos a existência deste banco. Nós e nossos filhos, já que virou rotina para o banco usar o Tesouro em seus empréstimos.

      É desanimador viver neste país.

      Abraços.

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