Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Fundos de investimento: dados que não podem escapar ao investidor

Nesta semana, um amigo me envia uma mensagem na iminência de investir em um fundo e pedindo minha opinião. Boa oportunidade para escrever um artigo. Aí está um assunto que, pode-se dizer, é uma unanimidade no meio acadêmico. Quando se investe em um fundo, o banco sempre ganha; já o investidor... não podemos dizer o mesmo.

É algo bastante razoável pensar que o gestor de um fundo tem um conhecimento acima da média e aplicará nosso capital com muito mais prudência do que nós. Porém, o grande problema é quanto pagamos por isso, porque a performance do fundo não é exatamente o que entrará em nosso bolso.

O que acontece, na prática, é que os fundos tomam um banho para o índice justamente devido aos seus altos custos de movimentação e suas taxas. Ou seja: o investidor, na grande maioria das vezes, acaba por pagar um profissional para obter um retorno abaixo da média do mercado. 

E não sou eu que estou dizendo isso. Existem inúmeros estudos que abordam o assunto e o resultado é sempre o mesmo. Vejam o gráfico abaixo, retirado do livro The four pillars of investing, de Willian Bernstein:
Neste estudo, avaliando o desempenho dos fundos de 1946 a 1964, apenas 48 de 115 fundos bateram o mercado antes das taxas, e veja, apenas um fundo bateu o mercado em mais de 3% durante o período. Quando subtraímos as taxas, o número cai para 39. Isso nos permite tirar algumas conclusões:

1) Em média, os fundos obterão o retorno do mercado, já que a maior parte do mercado é operado pelos fundos;

2) investindo em um fundo, nós obteremos o retorno do mercado menos as taxas. Ou como diria John Bogle, defensor mais notável do investimento passivo: "you get what you don't pay for";

3) taxas são sempre significativas e podem comprometer o nosso desempenho no longo prazo. Uma estratégia que as reduza provavelmente será eficaz em melhorar nosso resultado.

Outra questão interessante é a seguinte: como um investidor escolherá qual fundo investir? Diria que, em algo próximo a cem por cento dos casos, será avaliando o histórico do fundo —ou do gestor. Novamente, é algo que parece bastante razoável, diria até lógico; porém, é uma estratégia que normalmente não funciona. 

No gráfico abaixo, temos um estudo realizado pela Dimension Fund Advisors e pela S&P/Micropal que observou o que aconteceria no futuro com os 30 fundos de melhor performance nos últimos cinco anos antes do período analisado. Em uma amostragem de cinco períodos, vejam só o resultado:

Novamente, um verdadeiro banho do índice nos fundos.

Para usar outra referência, vejam mais um estudo, desta vez tirado do livro The elements of investing, de Burton Malkiel e Charles Ellis, analisando a porcentagem de vezes em que o mercado bate os fundos em diferentes períodos de tempo:

Resumindo: cerca de dois terços dos gestores de fundos ativos, por mais que se esforcem, não superam o mercado.

Para citar ainda mais uma fonte diferente, Mark Carhart, em 1997, fez um estudo chamado On Persistence in Mutual-fund Performance,  onde foi analisada a performance de 1892 fundos durante o período de 1961-1993. Abaixo um resumo de suas conclusões:

1) A média dos fundos com administração ativa performaram abaixo do benchmark passivo com uma base de 1,8 pontos percentuais ao ano antes dos impostos.

2) Não há persistência no desempenho além do que seria esperado aleatoriamente. A performance passada dos gestores ativos é uma péssima preditora de seu desempenho futuro.

E qual a minha conclusão sobre essa história? Serei taxativo: sou contra o investimento em qualquer tipo de fundo com gestão ativa (hedge, multimercados, etc.). Para mim está muito claro que, na média, este tipo de fundo apanha cruelmente para o índice, e é simples o porquê: o índice cobra taxas de administração substancialmente menores, não possui taxa de performance e não gira o patrimônio, ou seja, não paga taxas e mais taxas de operação.

Existem gestores que batem consistentemente o mercado? Sim, existem. O problema é que a grande maioria deles fica abaixo no longo prazo, e quanto melhor a performance passada, menor a chance de grande desempenho futuro, ou seja: escolher um fundo de sucesso é tão ou mais difícil do que escolher uma ação de sucesso.

9 comentários:

  1. Fundo de investimento é um péssimo investimento, demorei a perceber isso, mas aos poucos estou saindo deles.

    ResponderExcluir
  2. Caro PM, como vai?
    Vc inclui como regra os fundos de investimento imobiliários nesse caso?
    Abraco.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. IM, tudo em ordem, e com você?

      Os FII's não entram nessa regra, pois são um mercado separado do acionário, com diferentes expectativas de retorno e portanto requerem uma análise diferenciada, com parâmetros diferentes.

      Os mutual-funds aos quais os estudos se referem são os fundos de ações geridos por bancos. Coloque nesta cesta, além dos fundos de ações, os hedge e multimercados.

      Outros tipos de fundos geridos por bancos, do tipo DI ou cambiais, talvez podem agregar alguma proteção ao investidor. Falando em retornos, normalmente também são ineficazes.

      Abraços.

      Excluir
    2. Ah bom. Foi oq pensei.
      Parabens pelo post. Ja tinha essa conclusao mas jamais teria feito um post tao esclarecedor e com tanta qualidade.
      Abraco e sucesso sempre!

      Excluir
    3. Obrigado pelas palavras, IM. Fico feliz que tenha sido útil.

      Abraços!

      Excluir
  3. Ótimo post. Preciso estudar isso, pois invisto em FII.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa. MP, leia meu comentário acima em resposta ao Investidor Mineiro.

      Abraços.

      Excluir
  4. Olá Mercado Insensato/ Pretenso Milionário,

    Qual é a sua opinião sobre os gestures multimercados no Brasil: Verde, Alaska, Adam, etc... Estes gestoras perderão sempre do índice?

    Publique mais artigos, grande abraço

    ResponderExcluir